Teia dos Povos e Fórum Popular da Natureza escrevem uma nova história na luta socioambiental


A Teia dos Povos, organizadora da VII Jornada de Agroecologia da Bahia com apoio do Fórum Popular da Natureza, surgiu como um movimento focado essencialmente na área rural, nos territórios quilombolas e indígenas, nos assentamentos e na pequena agricultura. Mas logo expandiu as teias também para as cidades, principalmente nas periferias urbanas que abrigam as populações fragilizadas mais atingidas pela insegurança alimentar. Já o Fórum Popular da Natureza nasceu com forte ancoragem nos movimentos sociais urbanos e, ao lado da Teia, tem ampliado debates e ações nas cidades sobre as questões ambientais.

“A Teia dos Povos nasceu há 10 anos, durante uma jornada de agroecologia no Paraná. O intuito era promover jornadas de agroecologia e discutir agroecologia que antes era um tema muito novo e não tinha muitos seguidores. Em 2012 fizemos a primeira Jornada de Agroecologia da Bahia, no Assentamento Terra a Vista. E lá nós decidimos que não era apenas jornada de agroecologia que a gente deveria estar fazendo todo ano, mas que tínhamos que construir uma articulação dos povos”, relata o líder quilombola Joelson Ferreira, o Mestre Joelson, um dos dirigentes do movimento.

Uma articulação, conta ele, que fosse capaz de unir os povos originários, indígenas, quilombolas, pequenos produtores, povos das periferias e movimentos sociais “numa pauta ampla”. “Uma aliança negra, indígena e popular. Uma aliança não só de palavras e conversas, mas uma aliança em luta”.

Mas Mestre Joelson, que já foi uma importante liderança do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), do qual se afastou há alguns anos depois de atuar em várias ocupações e assentamentos, avalia que a recuperação e manutenção de territórios é o primeiro passo essencial, mas diz que as lutas não podem se resumir a isso. “A Teia dos Povos tem também a missão de resgatar nossa ancestralidade, a cultura dos nossos povos. Não como princípio saudosista, ninguém quer voltar ao passado. Mas rememorar e misturar essa inteligência milenar com o presente e o futuro”.

O resgate da ancestralidade toca também, “de forma profunda” segundo Joelson, na maneira de viver na terra e na Terra. “E não tem nada de religiosidade nisso, mas é o resgate de uma cultura que não seja focada só nas questões materiais que hoje estão na essência do capitalismo e também do socialismo”.

FÓRUM DA NATUREZA  

O Fórum Popular da Natureza começou a ser construído em 2019, a partir de encontros de lideranças de movimentos sociais de diferentes categorias e de várias regiões brasileiras. “A discussão inicial era como levar a pauta ambiental, a discussão socioambiental, para a periferia das nossas cidades e também para rincões do país. Tornar a pauta socioambiental, ainda restrita a segmentos da sociedade, em uma pauta popular”, relata Marco Antônio Dallama, assessor de Meio Ambiente da CUT de São Paulo e destacado para acompanhar a VII Jornada.

A partir das discussões iniciais, o Fórum foi se consolidando com a adesão de novos movimentos e entidades, como a própria CUT, que se juntou ao projeto dois anos depois. A ADunicamp foi pioneira e participou ativamente da articulação de criação do Fórum. Atualmente, além de apoiar diferentes atividades organizadas pelo coletivo, a entidade faz parte da direção nacional do Fórum.

Uma das lideranças do Fórum, e que atuou na organização da VII Jornada, Eduardo Zanatta, lembra que o projeto inicial era realizar um encontro nacional, com lideranças e militantes de todos esses movimentos, mas que isso foi impedido pela pandemia e o primeiro encontro presencial só ocorreu recentemente, em novembro de 2022, reunindo um grande número de movimentos de alcance nacional ou local.

A partir daí começaram a ser criados os núcleos estaduais e regionais, que já atuam em cinco estados brasileiros. “O Fórum só dá as linhas gerais, mas os núcleos é que coordenam e comandam as ações com suas reivindicações específicas. O Fórum só reforça a unidade entre eles”, diz Marco.

Em 2021, durante a pandemia, o Fórum organizou oficinas online que ao longo de 10 dias reuniram à distância centenas de participantes que discutiram as mais diversas pautas socioambientais. A partir dessas oficinas, foi criada a Escola Popular da Natureza, que hoje é um dos principais espaços de troca de informações e debates do movimento.

“Temos conseguido reunir grandes pensadores da política, da economia e da ciência, sempre tratando as questões socioambientais numa linguagem que possa chegar a todo mundo, com cursos dos mais variados temas: comunicação, arte, questão agrária, questão da mineração, resíduos sólidos, direito à água, conflitos socioambientais nos territórios. E sempre puxando essa questão da defesa da natureza, da interrelação do ser humano com o seu meio”, diz o jornalista Davi Amorim, militante há 18 anos do Movimento Nacional de Catadores e que integra o Grupo de Trabalho de Comunicação do Fórum.

Davi avalia que questões socioambientais graves e que atingem toda a humanidade não têm sido amplamente discutidas com a sociedade, como deveriam, principalmente junto às comunidades fragilizadas que têm sido duramente atingidas por elas.

“Além da questão climática, temos aí, por exemplo, a pandemia do plástico. Existem estudos científicos que mostram que já foi encontrado plástico na corrente sanguínea de pessoas e em fetos. É muito importante a gente debater isso com o conjunto da sociedade. Os catadores, que ajudam na mitigação desse tipo de poluição, podem ter importantes educativo junto à população”.

GALERIA

Fotos: Arquivo/ADunicamp

SÉRIE DE MATÉRIAS

Esta é a segunda matéria de uma série produzida pela ADunicamp, que esteve presente na VII Jornada de Agroecologia da Bahia. A primeira foi sobre a participação de centenas de lideranças de movimentos sociais, que discutiram propostas, rumos e ações para fortalecer a solidariedade e a mobilização conjunta das lutas dos movimentos, povos e comunidades das diferentes regiões do país. Acesse aqui para ler.


4 Comentários

ADunicamp

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admin

Kátia, boa tarde! Você pode falar diretamente com nossa diretora Regina. Para isso, basta enviar um e-mail para: reginacs@unicamp.br Att.

ADunicamp

[…] – Teia dos Povo e Fórum Popular da Natureza escrevem uma nova história na luta socioambienta… […]

Kátia Kodama

Gostaria de obter o contato das liderança que estão coordenando as atividades da Escola Popular da Natureza. Estou pesquisando educação não formal.

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