A repressão militar na Unicamp: prisões, torturas, demissões e ameaças.


GT Unicamp Pela Democracia, julho 2021

Os trabalhos da Comissão da Verdade e Memória “Octavio Ianni” da Unicamp (2013-2015) revelaram que, durante a ditadura militar (1964-1985), a Unicamp esteve longe de ser uma ilha serena em mar revolto. Alguns de seus docentes, estudantes e servidores sofreram prisões, torturas (físicas e psicológicas), interrogatórios, ameaças constantes e constrangimentos diversos por parte dos órgãos de repressão. Demissões de docentes igualmente ocorreram em virtude de pressões dos agentes de segurança, aceitas pela Direção da Universidade.

Registre-se que, por meio de uma Placa, construída na praça das Bandeiras de nosso campus, a Reitoria Universidade, em 2016, homenageou as mulheres e os homens que, por defenderam convicções democráticas, sofreram algum tipo de repressão durante os 21 anos de regime ditatorial.

O GT #Unicamp Pela Democracia – que reúne a Adunicamp, a APG, o DCE e o STU – entende que seus nomes devem ser lembrados:

a) Membros da comunidade acadêmica que estavam vinculados à Universidade quando sofreram arbitrariedades por parte do regime militar:

Ademir Gebara / Alberto Pelegrini Filho (in memoriam) / Alberto Zeitune / Alcides Mamizuka / Anamaria Tambellini / Cristina Possas / Edson Corrêa da Silva / Eduardo Maia de Carvalho / Eleonora Machado Freire (in memoriam) / Elisabete Moreira dos Santos / Francisco Eduardo Campos / Francisco Prado Novaes / Francisco Viacava / Gustavo Zimmermann / Hélio Rodrigues / João Frederico Meyer (Joni) / João Aidar Filho / Joaquim Alberto Cardoso de Melo (in memoriam) / José Aristodemo Pinotti (in memoriam) / José Augusto Cabral de Barros / José Eduardo dos Passos Jorge / José Rubens de Alcântara Bonfim / José Welmovick / Lais Tolentino / Luiz Antonio Vasconcelos / Luiz Carlos Toledo / Marilia Bernardes Marques / Osvaldo de Oliveira, Raimundo Araujo dos Santos (in memoriam) / Rodolpho Caniato / Rosali Ziller de Araújo / Rubens Murillo Marques / Sérgio Arouca (in memoriam) eSimão Lukowiecki (in memoriam);

b) Membros da comunidade acadêmica que – antes de terem vínculos com a Unicamp – sofreram algum tipo de arbitrariedade dos órgãos de repressão.

Docentes:

Ana Fonseca / Ângela Araujo / Ângela Soligo / Antônio Carlos de Oliveira (in memoriam) / Benito Damasceno / Bento Prado Junior (in memoriam) / Bernardino Figueiredo / Carlos Alberto Lobão / Carlos Estevam Martins (in memoriam) / Carlos Lessa (in memoriam) / Elza Berquó / Frederico Mazzucchelli / Helena de Freitas / Izabel Marson / João Quartim de Moraes / Jorge Mattoso / Jorge Miglioli /José Serra / Leda Gitahy / Liana Aureliano / Lourdes Sola / Luiz Carlos Freitas / José Luiz Paes Nunes / Luiz Werneck Vianna / Maria Lygia Quartim de Moraes / Marcelo Moreira Ganzarolli, Marco Aurélio Garcia (in memoriam), Maurício Tragtenberg (in memoriam) / Nelson Rodrigues dos Santos / Octávio Ianni (in memoriam) / Osvair Vidal Trevisan (in memoriam) / Paulo Freire (in memoriam) / Paulo Roberto Beskow / Paulo Renato de Souza (in memoriam) / Renato Dagnino / Roberto Romano da Silva / Roberto Schwarz / Sandra Negraes Brisolla (in memoriam) / Sebastião Velasco e Cruz / Sérgio Salazar / Sérgio Silva (in memoriam) / Sônia Draibe / Sílvio de Alencastro Pregnolatto / Waldir Quadros e Waldir Ribeiro Gallo.

Estudantes:

Ana Valderez (in memoriam) / Álvaro Caropreso / Ângela Soligo / Carlos Eduardo Viegas da Silva / Claudio Torres (in memoriam)/ Clovis Goldemberg (in memoriam) / Dilma Vana Rousseff / Jorge Baptista Filho (in memoriam) / José Machado / Leslie Denise Beloche / Luiz Carlos Cintra / Lylia Guedes Galetti / Raul Pont / Robêni Baptista da Costa / Vilma Barban e Zenaide Machado.

Funcionários

José Tomaselli / Ondina da Silva Pregnolatto.

c) Neste momento em que a comunidade acadêmica se mobiliza para defender, junto ao Consu, a revogação do título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Unicamp ao Cel. Jarbas Passarinho, impõe-se lembrar: Elza Berquó, a única mulher que recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Unicamp, foi, em 1969, aposentada compulsoriamente da USP em consequência direta do AI 5 (13/12/1968).

A Ata desse decreto da ditadura militar registra que o Cel. Passarinho, ao assinar o documento, afirmou: “Às favas, senhor presidente, todos os escrúpulos de consciência”.

Em Nota aos docentes da Unicamp, a renomada pesquisadora e fundadora do Núcleo de Estudos de População, Elza Berquó, nos escreveu:

Manifesto meu apoio irrestrito à solicitação que docentes da Unicamp fazem no sentido de que, em breve, o Conselho Universitário revogue o título Doutor Honoris Causa concedido, em 1973, pela Unicamp ao Coronel Jarbas Passarinho.

A meu ver, este signatário do AI 5 não possui nenhuma qualificação cultural, educacional, política e moral para figurar entre as personalidades distinguidas com a mais alta honraria concedida pela Unicamp”.

Elza Salvatori Berquó


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