Um dos principais nomes da Sociologia do Trabalho falou sobre a situação da classe trabalhadora nos dias atuais
A crise do capitalismo é uma tônica entre cientistas políticos, economistas e sociólogos que buscam entender o cenário brasileiro. A ideia de que o sistema de produção capitalista ainda atende a um verniz democrático, pelo menos em alguns lugares do país, tem pouco espaço entre os acadêmicos progressistas. Das análises mais pessimistas às otimistas, porém, observar a classe trabalhadora e suas condições são essenciais para entender o movimento e encontrar caminhos de saída.
Ricardo Antunes, professor titular de Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp), é um dos principais nomes da Sociologia do Trabalho no Brasil e América Latina. Foi professor visitante na Universidade de Sussex (Inglaterra), na Universidade Ca’Foscari (Veneza/Itália) e na Universidade de Coimbra (Portugal). Também já foi contemplado com a Cátedra Florestan Fernandes do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso).
Em entrevista ao Brasil de Fato, Antunes parafraseia Antonio Gramsci ao fazer uma análise pessimista, mas garantir que é um otimista. Para o docente, “o capitalismo desenvolveu o seu sistema de metabolismo social, intensificando uma tendência que está presente desde o início do capitalismo, mas que agora atingiu a sua fase mais intensa: o capitalismo só pode crescer destruindo”.
Essa destruição atinge três pilares: natureza, trabalho e igualdade substantiva. É no segundo aspecto, o do trabalho, em que o professor se concentra em livros recentemente publicados e nesta entrevista. “Há uma massa imensa de trabalhadoras e trabalhadores compondo”, o que o professor chama de “exército de reserva”.
“Nesse cenário, o capitalismo reduz a força humana de trabalho ao mínimo possível, extraindo a pele, o corpo e a alma desta classe trabalhadora”, diz. “Inventou-se uma denominação para esses trabalhadores e trabalhadoras, empregando sem dizer que eles são empregados, assalariando sem dizer que elas são assalariados, proletarizando ao limite sem dizer que são proletários, para poder burlar a legislação protetora do trabalho onde é possível fazer isso”.
Antunes fala principalmente dos trabalhadores de aplicativos de serviços, como Ifood e 99. Um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), publicado no ano passado, mostrou que o número de motoristas que atuam de forma autônoma no transporte de passageiros passou de 400 mil em 2012 para 1 milhão em 2022. No mesmo período, no entanto, a remuneração média mensal desses trabalhadores caiu de R$ 3.100 para R$ 2.400. Soma-se a isso uma escala de trabalho que preenche toda a semana, uma jornada que ultrapassa das 10 horas diárias e a ausência de garantias legais de um trabalho formal.
“Toda esta classe trabalhadora, desde a com menos qualificação até a com mais qualificação, está fora da legislação protetora do trabalho. Isto é voltar no Brasil e no mundo às condições de trabalho do século 19 na Inglaterra, que era caracterizada pela exploração ilimitada, pela expropriação dos direitos do trabalho”, afirma o professor.
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