Genocídio na Palestina torna urgente rompimento do convênio da Unicamp com a israelense Technion



O aumento exponencial da violência por parte de Israel na Faixa de Gaza, que levou inclusive a ONU a reconhecer mesmo que tardiamente um genocídio em curso ali, torna imperioso tomadas de decisões contra o extermínio do povo palestino, em todos os níveis da sociedade mundial. E há, pelo menos, uma decisão que a Unicamp e seu Consu (Conselho Universitário) têm que tomar com o urgência: o rompimento do convênio que a universidade firmou, em 2023, com a Technion (Instituto de Tecnologia de Israel), a mais antiga universidade de Israel, notoriamente ligada ao exército e à indústria armamentista israelitas.

Na mesma direção, é importante que toda a comunidade acadêmica se manifeste contra o convênio e pelo cancelamento dele. Com esse objetivo, a ADunicamp convocou para amanhã (terça-feira), 23 de setembro, uma Assembleia Extraordinária que tem exatamente o objetivo de construir e definir uma posição da categoria docente sobre o convênio.

“A assembleia será um espaço de discussão e uma oportunidade histórica para que docentes da Universidade se posicionem oficialmente contra a o genocídio em Gaza. Cada voz e cada ação que se coloque contra a tentativa de extermínio do povo palestino é fundamental neste momento”, defende o vice-presidente da ADunicamp, professor Luciano Pereira (FE).

Luciano lembra que o acordo com a Technion é alvo de críticas de diversos setores acadêmicos e movimentos sociais. “A Unicamp sempre buscou manter compromisso ético e científico com os direitos humanos, é uma contradição sustentar esse acordo com um instituto científico claramente ligado às tecnologias militares utilizadas pelas forças que comandam o genocídio em Gaza”, diz o professor.

A ADunicamp tem se posicionado claramente pelo rompimento do convênio, assim como os demais segmentos da comunidade acadêmica. Conheça, abaixo, ações e posicionamentos que já foram tomados contra o convênio pela ADunicamp, por grupos docentes, pelo STU (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp) e por coletivos estudantis.

DEBATE NA ADUNICAMP REVELA EXTENSÃO DO GENOCÍDIO

A mais recente ação promovida pela ADunicamp foi o debate “Genocídio em Gaza e a campanha mundial de boicote a Israel”, ocorrido na terça-feira, 16 de setembro. Participaram do debate o mestrando em Relações Internacionais no Instituto San Tiago Dantas e integrante do coletivo Vozes Judaicas por Libertação, Shajar Goldwaser; Andressa Oliveira Soares, do Comitê Nacional Palestino do BDS (Boicotes, Desinvestimentos e Sanções); e a professora Stella Paterniani (IFCH), do COMITÊ UNICAMP PALESTINA LIVRE.

Os debatedores mostraram a extensão dos crimes contra a humanidade cometidos pelo Exército de Israel em Gaza e também a importância das pressões que estão em curso, em escala mundial, para combater o genocídio. Nesse sentido, o rompimento do convênio da Unicamp com a Technion tem grande importância. Até porque as universidades israelenses tem uma ligação direta com o Exército de Israel e a indústria bélica utilizada no genocídio e, ao mesmo tempo, se jactam de ter penetração e intercâmbios com as principais universidades do mundo inteiro.

Um dos objetivos do debate foi o de fornecer subsídios para a assembleia sobre o tema que ocorre amanhã, dia 23. (Leia aqui o texto completo. Veja aqui o vídeo do debate)

DIRETORIA DA ADUNICAMP DEFENDE FIM DO ACORDO

A ADunicamp se manifestou publicamente (ler aqui), em julho de 2024, pedindo a suspensão imediata do acordo da Technion com a Unicamp. Apesar do sigilo imposto ao contrato, o papel do Technion na guerra contra o povo palestino se tornava cada vez mais claro. Trata-se de uma “instituição que produz tecnologia militar de ponta, atualmente empregada nas ações militares que têm produzido verdadeiros crimes de guerra contra a população palestina na Faixa de Gaza”, afirmou a ADunicamp.

Na avaliação da ADunicamp é “inadmissível que uma Universidade com a importância da Unicamp vincule seu nome e sua grande estrutura de pesquisa e de ensino à chamada ‘indústria da morte’”. Com o agravante de que essa indústria já estava diretamente ligada “à grande tragédia humanitária que ocorre na Palestina”.

ADUNICAMP INTEGRA COMITÊ DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO

O CR (Conselho de Representantes) da ADunicamp, reunido em 28 de agosto de 2024, aprovou a adesão da entidade ao então recém-criado Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino, que reúne integrantes de todos os segmentos da comunidade acadêmica da ADunicamp (leia aqui).

As propostas do Comitê, que desde então foram colocadas em curso são as seguintes:

1 – Promover iniciativas, junto à comunidade acadêmica da Unicamp, em solidariedade ao povo palestino. (Entre elas: debates políticos, atos de natureza artística e cultural; elaboração de Notas/Moções; divulgação de textos, exibição de filmes e vídeos);
2 – Associar-se às realizações de entidades e grupos, dentro e fora dos meios acadêmicos, que se orientam pelos mesmos objetivos;
3 – Divulgar todas as atividades, realizadas nos meios acadêmicos e fora deles, em solidariedade à causa palestina;
4- Solidarizar-se e apoiar todas e todos que são discriminados, acusados e perseguidos em virtude da defesa de seus ideais e convicções críticas.

CR REFERENDA MANIFESTO PELO CESSAR-FOGO

O CR (Conselho de Representantes) da ADunicamp já havia referendado, em novembro de 2024, o manifesto intitulado “Pelo cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza! Pelo fim do genocídio do povo palestino” (ler aqui).

O manifesto reivindicava, além do cessar-fogo, a abertura de negociações de Israel com o Hamas para troca dos reféns israelenses, a progressiva desocupação dos territórios e criação do Estado da Palestina.

160 docentes assinam carta pelo rompimento

Uma “Carta aberta ao Consu”, assinada por 160 docentes e endossada pela diretoria da ADunicamp, foi encaminhada ao Conselho Universitário da Unicamp, em agosto de 2024, pedindo o rompimento do acordo com o Technion. A carta afirma, amparada em sólida documentação, que o Technion “produz tecnologia militar de ponta, atualmente empregada nas ações militares que têm produzido verdadeiros crimes de guerra contra a população palestina na Faixa de Gaza”.

A proposta do rompimento foi debatida e votada na reunião mensal do Consu daquele mês, mas o conselho decidiu manter o convênio por 26 votos a 20, embora o longo e intenso debate tenha demonstrado que até dentro da Reitoria não havia unanimidade sobre a sua manutenção. A então pró-reitora de Pós-Graduação, Rachel Meneguello (IFCH), defendeu o teor da “Carta Aberta”, enquanto o reitor Antônio Meirelles (FEA), o Tom zé, se opôs, embora tenha dito que, na prática, a cooperação não avançaria enquanto persistisse a violência israelense em Gaza. “Do ponto de vista prático, é essa a decisão. Nós simplesmente vamos esperar a situação mudar para eventualmente pensar em alguma continuidade”, disse ele.

Entre docentes que se manifestaram a favor da Carta, a professora Andréia Galvão, então diretora do IFCH, avaliou que mesmo que o foco do convênio não implique tecnologia militar, é comprovado o forte elo que existe entre aquela instituição acadêmica e a indústria bélica que vem sendo empregada por Israel contra os palestinos.

Assim, para a professora, o rompimento do contrato “é a forma que nós encontramos de fazer pressão sobre nossos pares para que eles contribuam mais ativamente para a busca da paz e para a construção do cessar-fogo”. Para ela, o “genocídio em Gaza é a questão mais candente do tempo presente e exige de nós uma tomada de posição, não apenas porque somos interpelados, mas também porque precisamos ser coerentes na defesa de valores e de princípios humanitários”.

A Procuradoria Geral da Unicamp informou que o sigilo do acordo não poderia ser retirado, uma vez que ele é “padrão” instituído em todos os memorandos de entendimento. Assim, o acesso ao documento só é feito de forma individual, com o compromisso de confidencialidade.

ANDES-SN pede cancelamento do acordo

O 67° CONAD do ANDES-SN, realizado no final de julho de 2024, aprovou moção de repúdio ao convênio da Unicamp com a Technion e pediu a sua “suspensão imediata”. De acordo com a moção, a Universidade de Haifa, desde sua criação, “mantém fortes e orgânicos vínculos com as políticas de ocupação e de limpeza étnica bem como justifica e legitima o regime de apartheid praticado” por Israel.

O rompimento do acordo, na avaliação do ANDES-SN, “revelará à comunidade acadêmica brasileira e internacional que (a Unicamp) não aceita ser conivente com uma universidade de Israel altamente comprometida com a política de apartheid e a barbárie imposta ao povo palestino”.  E, partindo de uma universidade com a importância da Unicamp, essa decisão terá um “enorme valor simbólico”.

No 68° Congresso, realizado em julho de 2025, a diretoria do ANDES-SN voltou a se manifestar sobre o genocídio na Palestina. E abriu o Congresso com a seguinte convocatória: “Nada é mais urgente do que a solidariedade ativa ao povo palestino. Nenhuma reunião de trabalhadoras e trabalhadores pode começar a não ser pela discussão de como empenhar todas as forças no apoio ao povo palestino, a começar pela exigência ao Governo Lula de que rompa todas as relações como o Estado de Israel. É preciso fortalecer e ampliar a rede de docentes em solidariedade ao povo palestino.” Chamando assim todas as unidades sindicais do país a se posicionares contra o genocídio.


2 Comentários

Professores da Unicamp pedem o fim do convênio da universidade com Instituto de Israel – Carta Campinas

[…] O professor Luciano relatou que, antes de convocar a assembleia, a Diretoria da ADunicamp, publicou textos com subsídios para a decisão dos/as docentes. E, inclusive, realizou um debate no dia 16 de setembro, com extensos esclarecimentos sobre o vínculo da Technion com a forças militares que comandam o genocídio em Gaza (leia aqui). […]

ADunicamp

[…] O professor Luciano relatou que, antes de convocar a assembleia, a Diretoria da ADunicamp, publicou textos com subsídios para a decisão dos/as docentes. E, inclusive, realizou um debate no dia 16 de setembro, com extensos esclarecimentos sobre o vínculo da Technion com a forças militares que comandam o genocídio em Gaza (leia aqui). […]

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