Na terça-feira, 19 de agosto, o auditório da ADunicamp recebeu a exibição gratuita do documentário “Ciência na Mira”, dirigido por Rafael Figueiredo e produzido pela COOPAS. O filme, que percorre festivais e instituições de ensino dentro e fora do Brasil, lança luz sobre a escalada de perseguições, cortes e ataques à pesquisa científica em um país onde o negacionismo foi transformado em política de Estado.

Com a presença do diretor e de uma das protagonistas do longa, a geógrafa Larissa Bombardi, o evento reuniu docentes, estudantes e comunidade externa em um momento que foi além do cinema: um ato político em defesa da liberdade acadêmica e da democracia.

O documentário acompanha a trajetória de quatro cientistas que se tornaram alvos preferenciais de ataques da extrema-direita e de setores ligados ao agronegócio, à indústria farmacêutica e a interesses autoritários: Larissa Bombardi, que precisou se exilar após denunciar o uso desenfreado de agrotóxicos no Brasil; Marcus Lacerda, infectologista ameaçado por expor os riscos da cloroquina no início da pandemia de Covid-19; Débora Diniz, pesquisadora de direitos humanos e feminismo que também enfrentou o exílio forçado; e Ricardo Galvão, físico e atual presidente do CNPq, demitido do INPE após revelar dados sobre o avanço do desmatamento na Amazônia.

Para Rafael Figueiredo, diretor do documentário, a obra é um retrato de um tempo em que a produção de conhecimento se tornou alvo de intimidação política e violência. “É a ciência, é a universidade pública, é a possibilidade de a sociedade se orientar por dados e não por fake news. Ao atacar esses cientistas, o que está em jogo é a própria democracia”, afirmou.

As gravações de Ciência na Mira ocorreram entre maio e junho de 2024, em diferentes cidades brasileiras e europeias, de Manaus a Berlim, e trazem relatos que expõem uma perseguição que vai muito além de xingamentos ou difamações nas redes sociais. Trata-se de uma política de cerceamento que envolve cortes orçamentários, hackeamentos, pressões institucionais, demissões e a necessidade de muitos pesquisadores viverem sob escolta ou fora do país.

Larissa Bombardi, que publicou em 2017 o atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, é uma das vozes centrais do filme. Perseguida por denunciar o veneno que chega à mesa da população brasileira, precisou deixar sua vida acadêmica na USP para se proteger.

Ao assistir ao filme pela primeira vez nessa exibição na ADunicamp, Larissa destacou um aspecto importante: “O filme traz a dimensão de que o meu caso não é isolado. Ver a história dos outros colegas foi muito emocionante. Particularmente a da Débora Diniz, porque trouxe para mim com muita clareza a dimensão de gênero: dos quatro pesquisadores, duas mulheres ainda estão exiladas, sem o salário de suas universidades. Isso abriu um outro canal de reflexão que eu não tinha percebido”, afirmou a cientista.

Ao encerrar a sessão, Figueiredo reforçou que o filme não é apenas uma denúncia, mas também um chamado à resistência. “Cabe a nós, à sociedade, amplificar essas histórias da maneira que pudermos. A forma que encontrei foi fazer este documentário e tentar, de todas as formas, que ele chegasse ao público mais amplo possível. Construímos uma narrativa que envolvesse o espectador e transmitisse a história dos personagens, suas angústias e a importância dessa questão, não só da ciência, mas da perseguição e do impedimento de que as pessoas possam exercer o seu ofício”, disse o diretor.

“Ciência na Mira” conta com roteiro de Cristina Gomes, produção executiva de Geraldo Borowski e apoio institucional da Fundação Oswaldo Cruz. A partir de novembro, será exibido no Canal Curta!, depois de percorrer universidades, sindicatos e festivais nacionais e internacionais.

Siga o perfil do filme: @ciencianamira.doc

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