Reitoráveis debatem rumos da Unicamp durante e após a pandemia


Os três candidatos ao cargo de reitor da Unicamp apresentaram e discutiram suas propostas e questões ligadas à Universidade, à educação e ao atual quadro social do país, durante debate realizado de forma virtual pela ADunicamp em parceria com STU, DCE e APG, na noite desta segunda feira, 22 de fevereiro. Os candidatos são os professores doutores Tom Zé (FEA), Mário Saad (FCM) e Sérgio Salles (IG) e a consulta será realizada nos dias 10 e 11 de março (primeiro turno).
O debate foi transmitido ao vivo, chegou a ser acompanhado por mais de 700 pessoas e pode ser visto na íntegra em https://www.youtube.com/ADunicamp. Ele foi dividido em quatro blocos, seguindo roteiro programado pelas entidades organizadoras e previamente discutido com os candidatos. 
O primeiro bloco foi voltado para a apresentação dos reitoráveis e apresentação de suas propostas a partir de um texto norteador do debate, elaborado em conjunto pelas entidades e previamente apresentado aos candidatos no dia anterior ao encontro. 
O texto norteador foi lido pela professora Silvia Gatti (IB), presidente da ADunicamp e mediadora do debate. Diz ele: “Mais recentemente, as Universidades Públicas Brasileiras têm sido sistematicamente atacadas. Há cortes nas receitas das universidades federais, há tentativas de sequestros financeiros nas UP Paulistas e também na FAPESP, a principal financiadora de C&T do nosso estado. Os investimentos em C&T e na educação são sistematicamente atacados e há nitidamente um projeto de desmonte da educação superior. Como consequência, a formação de recursos humanos, o desenvolvimento científico, cultural e tecnológico e a liberdade de pensamento estão sob ameaça. Na sua visão, a que se deve esse momento? Se eleito, que ações efetivas serão implementadas para agir contra estes ataques e o desmonte das Universidades Públicas”?
No segundo bloco, cada entidade formulou uma mesma pergunta para ser respondida pelos três candidatos (leia, no final do texto, a integra das perguntas formuladas pelas entidades). 
A ADunicamp questionou os reitoráveis sobre os desafios impostos pela pandemia da Covid-19, sobre as restrições da Lei Complementar 173/2020 e a recuperação salarial dos professores e técnico-administrativos, além do ensino remoto e da degradação do trabalho de docentes.
O STU focou nas propostas de cada candidato para a carreira Paep, que se encontra estagnada há anos, e indagou também como eles pretendem enfrentar as restrições impostas pela LC 173.
A APG questionou os reitores sobre as propostas de ampliação das políticas afirmativas e de inclusão social, étnica e de gênero na Universidade.
O DCE apontou os baixos recursos destinados pela Universidade para as políticas de permanência e indagou sobre as propostas dos reitoráveis para recuperação e manutenção da moradia, bem como aumento das bolsas SAE para estudantes mais vulneráveis e fragilizados no âmbito da pandemia.  
PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO
O terceiro bloco foi destinado às perguntas formuladas pelo público. A participação do público, em decorrência das limitações impostas pela pandemia, foi garantida a partir de um sorteio prévio que selecionou perguntas de três integrantes de cada uma das categorias ligadas às entidades organizadoras. 
Cada pergunta, das três sorteadas pelas entidades, foi feita a um dos candidatos também definido por sorteio prévio. O sorteio das perguntas formuladas pelo público foi realizado na manhã do dia do debate. As pessoas interessadas em formular as perguntas fizeram o encaminhamento delas também de forma virtual, por meio de formulário disponibilizado nas redes sociais das entidades.
 Os reitoráveis responderam às mesmas perguntas formuladas por cada uma das categorias. Elas abordaram uma grande variedade de temas, desde o plano de carreira para os servidores, as parcerias da Unicamp com a iniciativa privada, cotas, bolsas, os novos critérios de avaliação da Capes, a retirada da homenagem ao general Jarbas
Passarinho concedida pela Unicamp durante a ditadura militar, até as questões atuais ligadas à pandemia e às dificuldades de manutenção e acompanhamento dos estudantes no ensino remoto, entre outras.
NOVO DEBATE
Nesta quarta-feira, 24 de fevereiro, a entidades promovem um novo debate com os vice-reitoráveis professoras doutoras Luiza (FCM) e Eliana Amaral (FCM) e professor doutor Zezi (IQ), respectivamente candidatos/as à vices de Tom Zé, Sérgio Salles e Mário Saad. O debate também será virtual e transmitido ao vivo a partir das 19h.
A consulta à comunidade da Unicamp para a sucessão do reitor terá o seu primeiro turno nos dias 10 e 11 de março e, caso seja necessário um segundo turno, ocorrerá nos dias 24 e 25 do mesmo mês.
A ÍNTEGRA DAS PERGUNTAS FORMULADAS PELAS ENTIDADES
ADunicamp:
“A pandemia da Covid-19 impôs às Universidades Públicas desafios nas áreas administrativas, de infraestrutura e da formação de recursos humanos. Caso eleito Reitor, como pretende atuar frente a estes desafios, em particular: a) como tratar com as restrições dispostas na LC 173/2020 e seus danos para a recuperação salarial, progressões etc.) VERSUS a autonomia universitária; b) o futuro do ensino na Unicamp (retorno das aulas presenciais tendo em vista que as condições de infraestrutura de salas de aula na UNICAMP não permitem o distanciamento social) VERSUS a manutenção do ensino remoto emergencial; c) e a degradação das condições de trabalho dos docentes que têm comprometido sua saúde física e mental?”
STU:
“A carreira Paepe, está estagnada há anos e sempre foi pautada nos processos de sucessão de reitor. Não há uma continuidade no processo e os trabalhadores não conseguem se ver na atual estrutura que a carreira apresenta, repleta de distorções, sem projeto presente e perspectiva de futuro. Ainda, em plena pandemia, a Unicamp tem alegado a necessidade de cumprir a Lei Complementar 173/2020, em outras palavras, tem utilizado ela para tudo: congelar salários, auxílio-alimentação, progressão na carreira que, embora estivesse no orçamento de 2020, foi contingenciada, concursos públicos suspensos, o mesmo ocorre a contagem de tempo de quinquênio, sexta parte e licença prêmio. O Tribunal de Justiça de São Paulo já manifestou o entendimento de que a Lei Complementar 173/2020 se aplica apenas aos entes políticos. A Universidade por gozar de autonomia administrativa está autorizada por conveniência e oportunidade a decidir se segue ou não aplicando essa lei que atinge em cheio os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores. O que o candidato tem a dizer sobre a carreira Paepe e sobre a aplicabilidade da da LC 173/2020 na Unicamp?
APG:
“Desde os anos 2000, vivenciamos no Brasil o avanço de políticas públicas como reconhecimento do racismo estrutural na sociedade, tendo o movimento negro como protagonista de várias conquistas, como por exemplo os avanços através da Lei de Cotas para cargos públicos e acesso ao ensino superior, considerando como estratégico a educação para superação da discriminação e exclusão social. Na Unicamp, houve um avanço tímido com a bonificação para estudantes PPI no vestibular, porém não suficiente. Por isso, de 2012 a 2016 inicia outro movimento que questiona esse formato de inclusão e, através de uma greve e ocupação da Reitoria, conquista as cotas pra o vestibular. Em 2015 inicia o debate no IFCH, sendo o primeiro instituto que implementa cotas na pós-graduação e depois desponta na FE, IE, IEL e IA, tendo ativamente de novo o protagonismo do movimento negro e estudantil para mais um avanço na democratização e inclusão no ensino superior. Recentemente tivemos a implementação de cotas trans em um programa no IFCH e outro no IA, sendo uma pauta que precisa ser mais amplamente discutida e incentivada. Em 2020 a APG cria o GT de Cotas na Pós que faz um estudo sobre estas e faz uma análise nos programas que têm cotas e de avanços necessários. Esse diagnóstico é apresentado como proposta na CCPG. Além disso, na própria avaliação institucional da Unicamp, no parecer da comissão externa é apontada a necessidade de ampliação e diversificação na pós-graduação e nos corpos docentes da Unicamp. Tendo em vista este contexto, a) Qual importância a Reitoria dará para ação afirmativa na Unicamp como política estrutural em todos setores da universidade? b) Como apliará o dialogo através da PRPG para os demais programas de pós-graduação, que ainda não tem ação afirmativa, para o acesso por via de cotas a estudantes negros, indígenas, com deficiência, pessoas trans e diversidade de gênero?
DCE:
“Acredito que seja do conhecimento de todos a parcela ínfima que é direcionada do orçamento da Universidade às políticas de permanência. Algo em torno de 3% dos gastos da Universidade hoje estão direcionados às políticas de permanência. Dada a situação atual, num momento de intensa fragilidade econômica, social e sanitária e as suas repercussões no ambiente universitário, gostaríamos de ouvir dos reitoráveis como irão atuar, caso eleitos, para aumentar essa parcela do orçamento direcionada à permanência, para que ocorra a devida manutenção da moradia que hoje está passando por um momento degradante e que as bolsas SAE sejam ampliadas para que os alunos mais vulneráveis e com menor poder aquisitivo possam permanecer na Universidade”.


0 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *